Ouro, prata, bronze, sangue, suor e lágrimas. Rafaela, Robson, Thiago, Isaquias, Maicon, Rafael, Felipe, Mayra, Poliana, Artur, Diego… Na alquimia dos metais olímpicos, não tem almoço grátis e a meritocracia é o Dharma, a Grande Lei Geral. O espírito olímpico é o contrário do coitadismo bolsista sem contrapartida que assola o país e reinventa o coronelismo, agora mais à esquerda. Nas Olimpíadas, estrelas só mesmo os caras do futebol que ou se rendiam ao zeitgeist ou viravam buracos negros. Acabaram se rendendo. Fui contra essa Olimpíada desde o começo. A Olimpíada que nunca foi do Lula. Nem dele nem da Dilma nem do Temer nem do Paes nem do COI. A Olimpíada foi do Brasil dos campeões que trabalham, pagam imposto, fazem trabalho voluntário e se divertem sempre que podem, do Brasil dos campeões da Lava-Jato e das ONGs bem tocadas por gente honesta e inspirada. A Olimpíada foi a glória justa e tardia dos brasileiros pretos pardos pequenos pobres mas também dos brasileiros brancos amarelos louros morenos de olhos castanhos verdes azuis, todos valorosos disciplinados esforçados irredutíveis apaixonados.
A Olimpíada foi o discurso incontestável, sem palavras porque nem precisava, dos sem ideologia com propósito. Fui contra a Olimpíada e, no entanto, me rendi à Beleza do Corpo no poder. Me deixei arrebatar e subjugar completamente pela Beleza no poder. Me tornei devota da estética ética da Olimpíada, com aquele cenário absurdo de lindo ao fundo, Rio de Janeiro, como eu gosto de você! Até a mentira dos nadadores americanos virou a nosso favor, que anedota feliz e necessária para belos viralatas como nós, mestiços sem raça que ainda não abarcamos a imensa vantagem genética dessa condição! Os deuses nos sorriram lá do Olimpo, na mesa do banquete em que Zeus e Xangô se rendiam aos encantos de Oxum e Afrodite.
Penso que as Olimpíadas sempre foram e continuarão a ser um portentoso ritual à verdadeira Beleza, a Beleza que vai muito, mas muito além da casca, do simulacro enganoso da aparência, do fantasma descarnado da perfeição retocada e rasa. A Beleza que fenece e pede para desabrochar em Sabedoria. Quanta variedade, que diversidade, que espantosa ode às diferenças, quantos formatos, cores, padrões, pesos, texturas, alturas, larguras, densidades, humores, estilos!
E que infinidade de gestos, sorrisos, movimentos, penteados, dancinhas, expressões faciais, esgares, gritos, gemidos, sussurros, saudações, urros, quantas linguagens naturais ou convencionais, que comunicação mais eficaz e livre da tirania do verbo que a do corpo falando com habilidade, graça e vigor, unido no pacto indissolúvel com as almas dos atletas. O corpo-alma preciso, escorreito e ágil mas também errático, ferido e alquebrado. Tudo lindo porque íntegro: o topo e o tombo, a dor e a alegria, a frustração e o contentamento, a derrota e a vitória. E como amar um Corpo isento de contrastes? Impossível, diz Afrodite Dourada, a que banha de paixão todas as medalhas olímpicas, esposa que é de Hefésto, o Divino Ferreiro.
Não, a escola não ensinará nada que preste enquanto não se deixar arrebatar pela Beleza, que os gregos cultuavam porque sabiam que era ela, e não a superestimada razão, o pilar fundamental da civilização. Não vai prestar essa escola ridícula enquanto não servir, de joelhos, ao Corpo e à Beleza, a que se escora na Justiça e na Bondade para se manifestar em plenitude, a genuína força civilizadora do coração humano, a alma da política que serve para servir à polis, a única vacina contra a barbárie de todos os extremismos e fundamentalismos religiosos e políticos que querem dividir para dominar. Não à toa os guerreiros do EI combatem e destroem a Beleza, ocultam a Beleza, têm pavor da Beleza. Eles estão certos. A Beleza dissolve polarizações sem se perder em debates vazios simplesmente porque ela É. Afrodite bota Ares, o deus da guerra, de quatro. E ainda tem, com ele, uma filha chamada Harmonia.
Por causa da Olimpíada, Afrodite Go virou meu APP da hora, instalado de fábrica na minha cabeça, ativado desde o nascimento, agora em versão totalmente atualizada. Que mané Pokemon, suprema babaquice! Eu quero é rastrear a Beleza no Mundo!
P.S. para Elke Maravilha, deusa encarnada, formidável Baba Yaga que se cansou desta brincadeira e gritou “Fui!”. Elke foi uma porta-voz do Feminino profundo, naturalmente pouco aproveitada e compreendida pelo feminismo patriarcal unilateral. Azar dele. A sabedoria temperada por um irresistível senso de humor, o amor e a originalidade continuam a ser atributos dessa personalidade singularíssima, que confrontou o mundo tolo e fosco da moda e viveu para ser quem o universo precisava que ela fosse, nada mais, nada menos. Elke não deixou herdeiro/a do mesmo porte neste rincão aonde veio aportar, fugindo de Stalin com sua família. Essa devemos a Stalin. Divirta-se, amor. Aliás nem precisava dizer. Beijos.